Senhora das letras – Dona Luiza Machado: a nossa eterna poetisa

A educação pública de Itapema perdeu nesta semana uma das suas mais incansáveis defensoras. Amante das letras, Dona Luiza Machado foi fundadora da Academia Itapemense de letras, da qual era membra vitalalícia e por anos nos brindou com suas lindas estrofes, pensamentos e textos em nossas páginas. Ela partiu aos 97 anos, deixando uma obra literária riquíssima, valorizando a nossa cultura, o nosso povo.

POR: Tom Amaral

A poetisa encantou. Viveu para as letras e por meio delas sempre será lembrada. Dona Luiza Machado nos brindou por anos a fio com suas lindas palavras em sua coluna no nosso jornal. Foi umas das primeiras professoras do município, sendo responsável pela formação de centenas de Itapemenses. Mesmo estando distante do quadro e do giz, nunca parou de ensinar, de encantar com suas palavras. Depois de sua aposentadoria das salas de aula, a Luiza professora cedeu espaço para a Luiza poetisa. Versos simples e ao mesmo tempo surpreendentes, riquíssimos em amor e dedicação. Brlha no céu, querida professora!

Os amores
Filha do pescador Carlos Pereira Machado e de Maria Salomé Pereira. O casal teve outros três fillhos, além de Luiza (Raul, Enedida e Ondina). Manezinha da Ilha, veio para nossa região na década de 30, com apenas três anos. O seu tio, o saudoso Zeferino Costa foi o primeiro coletor de Porto Belo e um dos principais incentivadores para que a então menina decidisse virar professora.
Em entrevista à reportagem em 2019, Dona Luiza nos confidenciou que começou a namorar por cartas. Segundo ela, antigamente era muito comum surgir casamentos de pessoas do nosso litoral com pessoal de Santos (SP). E foi numa dessas que a poetisa apaixou-se por um marinheiro santista. Começaram o relacionamento por cartas, porém o charme de Luiza também despertava interesse dos nativos. Ela lembrou que por aqui, um itapemense chamado Romeu Carlos ficou perdidamente apaixonado pela professora.
“Ele era muito conhecido das famílias de Porto Belo. O pessoal me aconselhava a esquecer o marinheiro e dar uma chance ao rapaz daqui. Me falaram que o marinheiro tinha um amor e cada porto, entretanto, o marinheiro me surpreendeu-me com um inesperado pedido de casamento. Por carta chegou até aqui o pedido, inclusive com fio de seda como prova do futuro vestido. No dia 13 de dezembro daquele ano, houve uma celebração no bairro Santa Luzia (Porto Belo) e nesta festa estava o outro pretendente. O dito cujo daqui estava presente e meu coração voltar a balançar”, revela Luiza.
Alguns anos se passaram e num revéillon, a jovem Luiza e algumas amigas foram passar a virada em um bailinho e adivinhem quem estava lá: o Romeu, o dito cujo daqui! O moço esperançoso nunca escondeu o amor por Luiza, que depois de tantas investidas do rapaz, acabou terminando o namoro com o marinheiro santista e cedeu aos encantos do itapemense.
O namoro entre eles durou cerca de um ano e meio até subirem ao altar. A família de Romeu era toda daqui de Itapema, mas especificamente do bairro Sertãozinho. Seu pai sempre dava um pedacinho de terra para que os filhos iniciassem a vida e assim fez com o jovem casal que começou uma linda história de amor que frutificou em cinco filhos (Carlos, Rogério, Carmelita Rosw, Carmem Rose, Carlete Rosina e Clóvis).

Senhora das letras


Por mais de 25 anos, Dona Luiza se dividiu entre a sala de aula e a criação dos filhos. Iniciou sua docência como estagiária da saudosa Dona Branquinha. Deu aula no Perequê e no Araçá.
“Eram poucos alunos na época, poucas famílias moravam naquele pedaço de terra. Aquela entrada do Araçá mesmo eu vi nascer”, relembra.
Depois de casada, Luiza veio lecionar em Itapema, uma das suas primeiras salas de aulas foi na frente da loja Carpi, no Centro, onde haviam duas salas de aula e quatro professoras. Depois ela foi para Carmela Ferner, em frente ao Cabral também no Centro e passou boa tarde da sua vida profissional no Olegário Bernardes.

Nota do repórter
Certa vez, ouvi um amigo professor dessa nova geração me dizer que dentre as muitas pessoas que marcam as nossas vidas, sempre há um professor ou professora. Apesar de não ter sido aluno de Dona Luiza, tenho certeza de que ela foi uma professora que marcou não só seus alunos e alunas, mas também lugares por onde passou. Aqui no jornal ela era muito querida e reverenciada. De todos os colaboradores que atuaram no A Hora, eu sempre fui o que tive mais proximidade com essa querida. De repórter, virei um amigo, um leitor, um fã e porque não um neto. Ia uma vez por semana a sua casa buscar as colunas para publicação, todas muito bem guardadas e separadas. A letra muito bem desenhada no papel, sempre com tinta azul.
Quando a Suelen (nossa secretária na época) me lembrava que estava no hora de ir buscar mais poesia, já tirava um tempo a mais, pois não era apenas uma visita, mas sim uma verdadeira aula. Dona Luzia sempre me esperava com um cafezinho e muitos boas risadas. Aprendia tanto ali que quando voltava à redação, retornava renovado. Lembro uma vez que comentei que estava sofrendo com uma anemia chata, que insistia em não passar. Ela prontamente, como uma verdadeira avó, me preparou uma garrafada, um vinho embebido com ferro que foi a solução para falta de ferro que tinha. Pude ver por muitos anos o seu amor em escrever, em deixar registrado o tempo a sua volta. Brilha lá no céu, querida professora!

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